Guilhotina no Palmeiras deflagra uma nova corrida contra o tempo para planejar 2020

Mano Menezes
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O Palmeiras foi derrotado pelo Flamengo no Allianz Parque na tarde de domingo e, depois de três meses, Mano Menezes acabou demitido. Junto com ele, foi dispensado também o Diretor de Futebol, Alexandre Mattos, que já vinha sendo alvo de uma campanha contra si havia alguns meses.

A derrota, em si, talvez já fosse a gota d’água para ambos. Mas a maneira como o jogo transcorreu tornou a decisão de demitir Mano muito fácil. Ainda durante a partida, ele mesmo já sabia que era o fim da linha; sua expressão corporal à beira do gramado já deixava claro que ele estava ciente que não haveria sequência em seu trabalho.

Incluindo a partida contra o Atlético-MG em que o time foi dirigido pelo auxiliar Sidnei Lobo, foram 20 partidas com a comissão técnica de Mano Menezes, com 11 vitórias, 5 empates e 4 derrotas – três delas na sequência final do trabalho e decisivas: contra o Grêmio, Fluminense e Flamengo. A derrota por 3 a 1 para os rubro-negros foi a pior sofrida pelo Palmeiras em cinco anos de existência do Allianz Parque.

O aproveitamento final da trajetória de Mano no Palmeiras foi de 63%, marca que o coloca apenas dentro da média histórica geral do clube – o que, diante dos novos padrões estabelecidos e da ambição imposta por todos nós, é pouco. Mas não foram apenas os números: a ausência de padrão tático e a postura leniente da maioria dos atletas em campo sob seu comando tornaram a permanência do treinador, num momento de decisão para o projeto técnico-tático da próxima temporada, insustentável.

Mattos foi no embrulho

Alexandre Mattos
Cesar Greco / Ag.Palmeiras

Não sabemos até que ponto a decisão de demitir Alexandre Mattos passou por discordâncias quanto a segurar ou não Mano Menezes. Era sabido que Mattos estava fechado com Mano e pode ter havido um impasse do tipo “se ele for, eu vou junto” – se houve, Mattos acabou fazendo um favor à direção, dando-lhe o argumento decisivo por sua demissão.

A pressão para demitir o Diretor de Futebol foi mais um produto desenvolvido pela fábrica de problemas que paira sobre o Palmeiras desde 1914. Em vez de pressionarem o presidente para ser menos permissivo com os maus negócios trazidos à mesa por Mattos, como acontecia até 2016, preferiram pedir a cabeça do subalterno e assim demonstram poder. No final, demore o quanto for, essas pressões sempre surtem efeito – pelo menos quando o comando não tem firmeza suficiente.

E agora?

Nós, torcedores, estamos perdidos. “Sabemos” o que não queremos, e normalmente não pensamos muito na hora de clamar por mudanças, mesmo sem ter a menor ideia da nova direção para que devemos remar depois.

Na entrevista coletiva concedida na noite de domingo, o presidente, ao menos aparentemente, mostrou estar na mesma situação. Sua noite de sono não deve ter sido das melhores.

Os rumos do Palmeiras para 2020 passam pela definição, pela ordem, da identidade de jogo que se quer implementar, e de quais profissionais comandarão essa nova implementação – a única coisa já sacramentada é que “a base será utilizada”.

Essas definições precisam ser rápidas, para organizar o roteiro de contratações e dispensas. Diante dos longos contratos a que quase todos os atletas do elenco estão vinculados, as dispensas demandarão tanto ou mais trabalho que as contratações, já que os jogadores precisam ser realocados por empréstimo.

O tempo está passando. Tic-tac.


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“O Palmeiras não usa a base” é um mito; discussão precisa melhorar

Academia de Futebol II, em Guarulhos

O uso da base – ou a falta dele – vem sendo usado como argumento para bombardear a gestão de Alexandre Mattos à frente do futebol palmeirense. De fato, o atual diretor de futebol tem cometido alguns erros à frente do departamento e não está nem um pouco livre de receber críticas. E a forma de aproveitamento da base talvez seja mesmo um deles.

A despeito da atuação de Mattos nos últimos anos, o Palmeiras é criticado há décadas por ser um time que não aproveita a base no time de cima.

Será que a fama é justa? E por que será que a maioria dos meninos que conseguem alguma chance não vingam no time de cima?

O objetivo deste post é desmistificar a fama de nosso clube de não usar a base e apresentar elementos para promover uma discussão um pouco mais ampla sobre o aproveitamento de jovens no Palmeiras.

Vamos aos dados

Gabriel Jesus

Vinicius; Taylor (Mailton), Thiago Martins (Vitão), Nathan (Pedrão) e Victor Luis (Esteves); Gabriel Furtado, Matheus Sales (Jobson), Juninho Silva e Vitinho; Gabriel Jesus e Fernando (Yan, Papagaio, Artur, Iacovelli ou Léo Passos).

Este time totalmente oriundo de nossa base já entrou em campo de 2015 para cá, já sob a gestão Mattos. Todos já tiveram alguma chance – é claro, não ao mesmo tempo.

Convenhamos: tirando o extra-classe Gabriel Jesus, ficaríamos bem pouco empolgados caso qualquer um deles fosse contratado no mercado. Tirando alguns poucos que poderiam (ou ainda podem) evoluir bastante na carreira, a lista contém vários flops. Parece um time dos tempos em que viramos coadjuvantes.

Por falar nesse tempo, temos mais uma penca de jogadores da base usados de 2010 para cá, antes da chegada de Mattos, que desmentem a fama de não aproveitarmos os pratas-da-casa. Com exceção de Marcos, a sensação ao verificar a lista não é positiva. Talvez o único dessa lista que tem ou teve uma carreira interessante foi o lateral Gabriel Silva.

GOLEIROS
Bruno
Deola
Fábio
Raphael Alemão

LATERAIS
Bruno Oliveira
Léo Cunha
João Pedro
Luís Felipe
Gabriel Silva

ZAGUEIROS
Wellington
Gualberto
Luiz Gustavo
Marcos Vinicius

VOLANTES
Renato
Souza
Bruno Turco
Gabriel Dias
João Denoni
Fernando

MEIAS
Felipe
Bruno Dybal
Índio
Patrik
Bruno Oliveira
Diego Souza Xavier
Edílson
Joãozinho
Patrick Vieira

ATACANTES
Chico
Vinishow
Caio Mancha
Émerson
Erik
Miguel Bianconi

É possível usar os links* para tentar reconhecer pela foto alguns deles, que tiveram pouquíssimas participações e poucos torcedores lembram sequer de suas existências, apontando apenas pelos nomes.

Em compensação, outros como Deola, Vinishow e Patrik vestiram nossa camisa por mais de 100 vezes. E nenhum deixou saudades.

Ao todo, foram citados 55 jogadores de nossa base, que tiveram alguma chance de 2010 para cá, no time principal. Definitivamente, não dá para dizer que “o Palmeiras não usa a base”.

O que é histórico é que nossa base, até 2012, sempre foi uma excrescência. Mal gerida, usada como balcão de negócios, fatiando os direitos econômicos dos atletas sempre que possível para agradar a uma ou outra figura de bom relacionamento com nossas diretorias, com um trabalho de formação pobre e atrasado, nossas categorias menores só produziram talentos como Marcos por fenômenos estatísticos.

Usa a base, mas usa mal

Souza

O problema do Palmeiras não é não usar a base, mas sim como a usa. Até 2012 era mero remendo: o clube recorria à molecada para emergencialmente preencher lacunas no elenco, e muitas vezes, como vimos, usava meninos com sérias deficiências na formação e/ou na transição.

Isso mudou a partir de 2013, quando a gestão foi remodelada em todos os aspectos. Hoje o Palmeiras é um devorador de títulos nas categorias de base. O clube já produz jogadores que podem eventualmente compor o elenco principal, ao menos como terceira opção. Um dos problema no uso atual da base é que a transição para o profissional ainda parece precisar de um aprimoramento.

A tática usada com alguns, como Arthur, Pedrão, Gabriel Furtado, Matheus Rocha, Vitinho, Léo Passos e Papagaio, é emprestá-los a times com menos pressão para que possam pegar rodagem jogando. Funcionou bem com Victor Luis.

A questão é que quando o contrato se aproxima do fim, tendo como concorrência em nosso elenco atletas contratados a altos valores no mercado, os agentes preferem recolocá-los onde tenham mais oportunidades de jogar, imediatamente.

Fernando, do sub-20

Outros, por pressa ou por oportunidades, acabam nos deixando muito cedo, como recentemente Vitão e Fernando. Outros partem sem ao menos estrear, como Luan Cândido. Todos foram negócios muito bons em termos financeiros para o clube.

Mas será que a avaliação entre vender ou segurar; liberar ao final de contrato ou promover, está sendo feita da melhor forma? Quais são os critérios objetivos usados para esse processo de tomada de decisão?

O uso da base é precioso demais para ser usado apenas como argumento (falacioso, como pudemos ver) para atacar o diretor de futebol do Palmeiras, uma das cadeiras mais cobiçadas do país por qualquer profissional da área comercial. A discussão precisa melhorar. Com os dados acima, esperamos contribuir para isso.

* Os dados estatísticos estão contando a partir de janeiro de 2010. Isto se deve ao fato de que esses dados estão sendo adicionados manualmente em nosso banco e o processo é minucioso e longo. Neste momento os dados de 2009 estão sendo inseridos. A previsão para que todos os dados, desde 1915, de todos os jogadores, estejam disponíveis é final de 2021.

A diferença entre um time protagonista e um time campeão de tudo

Comemoração
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

O setor ofensivo do Palmeiras parece ter resolvido o problema da pontaria. Depois de ter ficado atrás de Santos e Ituano no estadual, o ataque palmeirense engatou uma boa sequência e neste momento é o mais positivo tanto na Libertadores quanto no Brasileirão.

A entrada de Ricardo Goulart, em princípio, fez bem ao ataque e o camisa 11 segue sendo um dos jogadores com mais participações em gols, seja convertendo-os, seja dando assistências. O setor sofreu uma pequena, mas fatal, oscilação nas semifinais do estadual; Goulart então saiu do time e Zé Rafael encaixou muito bem – antes do jogo contra o CSA, com o time reserva, o Palmeiras havia marcado 11 gols em três jogos.

Mas se a linha ofensiva com Dudu, Gustavo Scarpa e Zé Rafael está dando conta do recado, o desempenho do comando do ataque em 2019, até agora, tem inegavelmente deixado a desejar.

Borja e Deyverson estão com desempenho sofrível; Arthur Cabral teve poucas chances até agora e o Palmeiras deixa de fazer alguns gols – e de somar alguns pontos, como aconteceu em Maceió – pela falta de eficácia do jogador mais avançado do time. Essa deficiência pode custar campeonatos.

Borja e Deyverson

Miguel Borja, a contratação mais cara da História do Palmeiras, até fez um ou outro bom jogo em 2019, mas sucumbiu à má fase. Os gols estão cada vez mais raros. Erros em lances fáceis fizeram a pressão da torcida aumentar. Sua personalidade retraída, a despeito de seu enorme coração, tornou sua situação ainda pior.

O colombiano nunca teve o nome tão especulado para deixar o clube; vendê-lo abaixo do preço investido já não é um pensamento tão absurdo diante do aparentemente irreversível prejuízo técnico. Em doze jogos, o colombiano marcou apenas três gols e deu uma assistência, em 866 minutos em campo.

Com o chip eternamente solto, Deyverson foi suspenso após um lance deplorável no Derby do estadual, mas recebeu nova chance após o gancho diante da fase ruim de Borja. Taticamente, o camisa 16 se mostra mais útil que o colombiano, mas sua limitação técnica faz com que os ataques muitas vezes terminem quando a bola chega a seus pés.

Apesar de não ser mais tão perseguido pela torcida quanto Borja, os números de Deyverson na temporada são até piores que os do colombiano: foram 13 jogos, 1060 minutos em campo, com os mesmos três gols e uma assistência. Os detalhes dos números podem ser conferidos na página de estatísticas do Verdazzo.

Arthur Cabral e a regra de Mattos

Arthur Cabral
Cesar Greco/Ag Palmeiras

A aposta de longo prazo da diretoria para o comando de ataque é Arthur Cabral. Contratado em agosto junto ao Ceará, então com 19 anos, o atacante teve até agora apenas duas chances de mostrar jogo – e em uma delas foi muito bem, marcando o gol de empate numa partida complicada em Novo Horizonte, no mata-mata do estadual. Questões físicas, no entanto, seguem atrapalhando o jogador.

Mesmo que seja logo liberado por completo, seu desempenho segue sendo uma incógnita. Afinal, poucos meninos de 20 anos conseguiram carregar o fardo de assumir a camisa 9 do Palmeiras sem sucumbir à pressão. Arthur Cabral tem condições para isso: é forte, tem todos os fundamentos e um time muito bom à sua volta.

Mas mesmo que consiga, ainda ficamos sujeitos a uma temporada desgastante e seguiríamos reféns de uma eventual lesão do camisa 39, retornando ao looping infinito de Deyverson/Borja. O Palmeiras precisa urgentemente rever a posição de centroavante na janela do meio do ano.

E para achar um atleta que forme com Arthur Cabral uma dupla de centroavantes para atender ao rodízio de Felipão, Mattos precisa quebrar uma regra imposta por ele mesmo: a de investir somente em jogadores com grande potencial de revenda, visando lucro financeiro em paralelo ao ganho técnico.

Os velhos cascudos

Os maiores centroavantes do Brasileirão, hoje, são veteraníssimos – e todos seguem marcando muitos gols. Ricardo Oliveira (38), Fred (35) e Guerrero (35) conhecem muito bem o futebol brasileiro e seguem dando ótimo retorno a seus clubes, deixando as torcidas bastante satisfeitas. Além deles, apenas o jovem Pedro (21), do Fluminense, vem tendo uma performance de destaque.

Talvez seja o momento do Palmeiras repensar a estratégia de contratação de atletas, ao menos em determinadas posições. Nem todo reforço precisa dar resultado financeiro positivo; o que importa, é o balanço final. Se o clube decidir investir num jogador com idade avançada e com pouco ou nenhum valor de revenda, mas ele responder marcando os gols que podem fazer a diferença num jogo decisivo – sobretudo nos mata-matas que começam pra valer em agosto – terá valido a pena.

Neste momento, poucos centroavantes têm esse perfil – goleadores, vencedores, experientes e habituados ao futebol brasileiro. Abaixo, algumas possibilidades:

  • Jonas (34), depois de uma espetacular temporada no Benfica em 17/18, teve duas lesões na temporada atual e vem figurando na reserva – mesmo assim, tem 13 gols em 31 jogos, muitos deles vindo do banco. Resta saber se ainda tem disposição de sair da Europa para jogar no Brasil.
  • Lucas Pratto (30) vem fazendo uma temporada discreta no River Plate: 5 gols em 19 jogos. Por já ter atuado nesta Libertadores, é uma opção com pouco apelo neste momento.
  • Jonathan Calleri (25) nem é tão experiente, tampouco faz uma temporada exuberante (8 gols em 33 jogos), mas tem o atenuante de estar num time fraco, o Alavés – coincidentemente, o último time de Deyverson.
  • Gustavo Bou (29) vive na ponte Racing/Tijuana. Desde que voltou ao clube mexicano, no início do ano, fez 8 gols em 16 jogos, mesmo não sendo exatamente um NOVE-NOVE. E não sabemos sequer se teria boa adaptação ao Brasil.
  • Dario Benedetto (28), pela mesma razão de Lucas Pratto, não tem força para esta janela. Seus números pelo Boca Juniors também não empolgam: 5 gols em 17 partidas. É outro que não sabemos como se adaptaria ao país.

Notem que nenhum dos atacantes aventados teria todos os predicados para preencher a lacuna em nosso elenco na próxima janela. Mas provavelmente há no mercado algum atleta que pode atender a nossas demandas – e é exatamente por esse motivo que Alexandre Mattos é muito bem remunerado: para prospectar o mercado e encontrar reforços que atendam ao que precisa o Palmeiras

E para isso, por vezes, pode ser melhor recorrer a um atleta com baixo ou nenhum valor de revenda, mas que resolva uma necessidade premente, a se manter preso a uma filosofia que envolve ganhos financeiros e que limita os resultados.

Um centroavante realmente cascudo e matador talvez seja a diferença entre um time com meias talentosíssimos, protagonista de todos os campeonatos, e um time copeiro e campeão de tudo.


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Compras e vendas colocam Mattos em xeque: ponderações além do óbvio

Carlos Eduardo
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

Os torcedores palmeirenses somos seres altamente bipolares, desde os tempos da Taça Savoia. Nossas reações ao que acontece em tudo relacionado ao Verdão, via de regra, são extremadas, seja para o bem, seja para o mal.

Além dessa característica marcante, nossa torcida desenvolveu nas últimas décadas outro comportamento interessante: é extremamente desconfiada. Desde que os primeiros jornalistas “de bastidores” surgiram, com as quentinhas das políticas dos clubes, os fatos passaram a ganhar razões ocultas. Os torcedores encarnam Sherlock Holmes e deduzem, cheios de razão, o porquê de determinado fato ter acontecido – normalmente, começam suas frases elucidativas com “a verdade é que…”

Ultimamente, diante do mau desempenho de Carlos Eduardo nestes primeiros sete jogos da temporada, muito se tem questionado a lisura de Alexandre Mattos nos negócios. A desconfiança aumentou com a notícia de que o diretor de futebol estaria na Europa em vias de vender Vitão e Luan Cândido, a fim de equilibrar o fluxo de caixa dos próximos meses.

A explicação dada à imprensa é de que existe a possibilidade do Palmeiras ser condenado nos próximos meses a pagar cerca de R$ 40 milhões ao empresário Antenor Angeloni pela compra de Wesley, na gestão Tirone. Há vários aspectos nessa história que precisam ser desenrolados.

Mais uma vez, a discussão sobre o uso da base

Luan Cândido
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras

A decisão de usar um jogador da base ou vendê-lo já foi objeto de um post, por ocasião de uma suposta oferta para vender Papagaio, em dezembro. O que temos à vista são as atuações de Vitão e Luan Cândido nos times de base, seja do Palmeiras, seja da seleção da CBF.

Vitão parece exercer liderança sobre os companheiros, característica importante para um zagueiro. O garoto é capitão do Palmeiras e da seleção desde o sub-17 e nunca deixou de ser convocado desde sua primeira aparição com a amarela. Mas apesar de ter seus predicados, Vitão não mostrou, em campo, nada que saltasse aos olhos. Parece ser um bom zagueiro – mas iguais a ele, é possível ver vários por aí, pelo menos por enquanto.

Pedrão, que foi emprestado ao América, parece bem mais pronto e segue o fluxo programado pela comissão técnica: um ano só treinando com os profissionais, depois percorre um ciclo de empréstimos para pegar cancha, para aí ser avaliado se pode integrar nosso elenco. Victor Luis cumpriu esse roteiro. Vitinho e Papagaio estão passando por ele. Outros como Anderson e Matheus Rocha foram emprestados direto, sem vivenciar o dia-a-dia da Academia de Futebol.

Luan Cândido parece um caso de exceção. Seu talento e maturidade dentro de campo chama muito a atenção. A chance de estarmos diante de um jogador extra-classe para o futebol mundial parece real e negociá-lo agora é uma tacada de alto risco, neste caso, não só para quem compra, mas também para quem vende. Estas avaliações, claro, são superficiais, de quem vê apenas as partidas e não acompanha os treinamentos e o comportamento intra-muros dos meninos.

Fluxo de caixa prejudicado

Wesley e Tirone

A notícia de que Mattos foi à Europa para vender os garotos por conta de um possível solavanco no fluxo de caixa, ainda por conta do caso Wesley, deixa várias pontas soltas.

O Palmeiras tem se caracterizado nos últimos anos pela extrema organização nas finanças. Ocorre que ações jurídicas antigas, que datam da gestão Tirone para trás, seguem correndo e a estratégia do Departamento Jurídico tem sido buscar acordos para ações tidas como “perdidas”, a fim de diminuir o valor total a ser pago. E isso muitas vezes envolve pagar à vista, ou em poucas parcelas, para reduzir o valor total.

No caso de Antenor Angeloni, um acordo satisfatório havia sido costurado na primeira gestão de Paulo Nobre, mas o COF, por obra de Mustafá Contursi, vetou. Isso irritou demais o empresário catarinense, que hoje se recusa a voltar a conversar como Palmeiras e a ação, que com os juros já beira os R$ 40 milhões, está em vias de ser executada. O timing dessa e de outras execuções é difícil de ser previsto e por vezes isso acaba exigindo alguns sacrifícios no caixa. Tudo isso explicaria esta viagem de Mattos à Europa que está irritando tanto a torcida.

O problema parece ainda maior porque Carlos Eduardo, a segunda contratação mais cara da História do clube, um jogador que nunca chamou a atenção de forma positiva em nenhum clube por que passou, faz um começo de temporada melancólico.

A balança não pode ser seletiva

Mattos e Borja

O folclore do futebol é recheado de histórias sobre negociações espúrias nas quais os cartolas dos clubes levam o famoso “por fora”. Tão recheado que parece difícil não supor que isso realmente acontece por aí – talvez não com a frequência com que a imaginação popular sugere, mas acontece.

Quando uma operação como a de Carlos Eduardo aponta para um saldo negativo, como acontece neste momento, a desconfiança aumenta. Detetives de rede social cravam que aí tem coisa. O que poucos parecem ponderar é que a função de diretor de futebol é passível de grandes erros, assim como pode render grandes tacadas. Ninguém sabe ao certo como um jogador recém-contratado vai render. Ao avaliar um diretor de futebol, a balança não pode ser seletiva, não se pode deixar nenhuma negociação de fora. Para ser justo, é preciso tratar do saldo total.

Não é só a segunda maior contratação da História do Palmeiras que está mal. A primeira também: Borja custou mais de R$ 30 milhões e está enlouquecendo as trombetas do apocalipse da rua Palestra. Só com o 37 e com o 9, são mais de R$ 50 milhões. Mas e quanto Mattos, com seu faro para negócios, já conseguiu de lucro para o clube? E em meio a isso tudo, quão forte foram os elencos que ele montou?

Quanto foi o saldo técnico e financeiro das contratações de Zé Roberto, Tchê Tchê, Moisés, Vitor Hugo, Keno, entre outros casos notórios? Como colocar de lado sua atuação junto a Manchester City e Barcelona para prolongar as estadas de Gabriel Jesus e Mina no clube, mesmo muito bem vendidos? Como esquecer o chapelaço nos inimigos para contratar Dudu, nosso maior ídolo da atualidade?

Dudu

Nestes pouco mais de quatro anos, entre compras e vendas, Mattos deve ter fechado cerca de duas centenas de negócios; mesmo com contratações como Ryder Mattos, Rodrigo, Kelvin, Victor Ramos e Emerson Santos, o saldo financeiro certamente é positivo e tecnicamente o clube vem ganhando títulos.

O salário de nosso diretor é muito bom para que ele não caia em tentação – se caiu ou não, em meio a todas essas negociações, é algo que vai permanecer para sempre no folclore, da mesma forma que antigos diretores de futebol do clube sempre lidaram com essa desconfiança – a não ser que algo concreto venha à tona. O feeling do presidente, que é quem sempre dá a palavra final em cada negociação, é a única coisa que pode frear um negócio aparentemente “estranho”. E se o técnico bate na mesa que quer o Carlos Eduardo, é mais difícil pisar nesse freio.

Para o torcedor que reclama mas paga pelo ingresso, paga Avanti e tudo o mais, no final das contas só interessa o momento, se o time está jogando “bem” ou não. Resultado em clássico conta muito. Pouco importa se é pré-temporada, se é paulista, se foram só sete de 80 jogos e existe um planejamento de evolução técnica. Se tem reforço caro jogando mal, ainda mais depois de perder um Derby, vai ter gente levantando lebres na Internet, cometendo, supostamente, injustiças. Ou não. Isto tudo, no fundo, é um saco, mas é elementar. Não é, Watson?


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O significado da permanência de Dudu

Dudu e Vitor Hugo

O Palmeiras anunciou no sábado a extensão do contrato de Dudu por mais um ano – seu contrato, que ia até o final de 2022, agora vai até dezembro de 2023 – mais cinco anos, o máximo que a legislação permite.

A permanência de Dudu certamente foi a melhor notícia para a torcida do Palmeiras nesta janela de transferências. O melhor jogador do futebol brasileiro ao final de cada temporada, diante do cenário financeiro internacional, normalmente é dado como perda certa a ser reposta pelos clubes. Nessa condição, não é incorreto dizer que o Palmeiras fez a melhor ‘contratação’ entre todos os clubes do país.

Como não podia deixar de ser, a notícia deixou a torcida extremamente empolgada. Além de manter no Verdão um jogador extra-classe e com isso sustentar o status de melhor elenco do país, a condição de ídolo parece ficar cada vez mais evidente – algo perfeito num cenário onde a necessidade por adoração a personalidades é uma regra.

O anúncio, no entanto, talvez precise ser melhor compreendido.

Ele fica – até a próxima janela

Zé Roberto, Dudu e Borja comemoram gol do Palmeiras

Foi comunicado que atleta e clube encerraram todas as conversas para uma possível transferências e que Dudu jogará no Palmeiras – pelo menos até a próxima janela – ou seja,  ele poderá sair do Palmeiras no meio do ano.

As circunstâncias que envolveram sua permanência estão ligadas à mudança nas regras de contratação por que passou o futebol chinês, que agora tem mais restrições para contar com atletas estrangeiros – tal mudança facilitou, inclusive, que o Palmeiras conseguisse o empréstimo de Ricardo Goulart. Mas isso não impede que, para o replanejamento das próximas temporadas, Dudu não volte a ser alvo dos clubes orientais.

As negociações entre o Palmeiras e os agentes de Dudu caminharam para a permanência diante de uma série de fatores, que certamente envolveram ajustes financeiros – tanto em sua multa rescisória, quanto em seus salários. Mas não garantem nada em relação ao que vai acontecer depois de julho. Se desta vez houve acordo, significa que está ótimo para todos – até a próxima rodada de negociação.

Isto precisa ficar bem claro para a torcida, que parece ter esquecido que o contrato anterior já era longo e que mesmo assim Dudu poderia sair a qualquer momento. O que deve ser comemorado é que as probabilidades de saída, a cada renovação, ficam cada vez menores – à medida que a idade do craque vai avançando, ele se torna menos atrativo para outros mercados. O Palmeiras tem, hoje, o privilégio de manter no elenco um atleta espetacular no auge de sua forma física e técnica.

Ídolo ou não: isso importa?

Dudu
Divulgação

É muito comum inserir a idolatria como tema nas discussões sobre futebol. Especular se um jogador é ou não ídolo de uma torcida é um dos esportes preferidos nas mesas redondas sobre o nada que infestam as televisões – e parte das torcidas curiosamente parecem adorar o assunto, afinal, os entendidos estão lá decidindo por eles quem são seus ídolos.

A idolatria é uma relação que deveria ser mais particular. Cada um decide, muitas vezes involuntariamente, o que sente em relação a cada atleta que tem o privilégio de vestir a camisa sagrada de nosso time. Lances rápidos, ou mesmo pequenos gestos fora de campo muitas vezes tocam pontos de nosso subconsciente e fazem com que uma relação de profundo respeito e afeto passe a ser cultivada – e essa relação aumenta ou diminui de intensidade a cada partida, a cada semana, com novos gestos.

Dudu
Cesar Greco/Ag.Palmeiras

A permanência de Dudu foi encarada por muitos como um gesto de amor ao clube. De fato, já são quatro anos completos, três títulos nacionais e uma relação muito bem construída com a torcida. No sábado, foi possível ler nas redes sociais que, com a decisão, Dudu entrava de vez para o rol de grandes ídolos do Palmeiras – como se esse rol existisse formalmente.

Como todo mundo, Dudu é, antes de tudo, uma pessoa que tem suas ambições pessoais, tem família e usa sua ocupação profissional para satisfazer suas necessidades. Neste momento, o pacote Palmeiras lhe dá as melhores condições, e foi isso que o fez tomar essa decisão. No que ficamos muito satisfeitos! Ontem, mesmo num jogo morno, Dudu foi um dos melhores jogadores do time.

Que o camisa 7, a cada ponto de tomada de decisão, sempre faça suas ponderações com a direção do clube, e que enquanto estiver valendo a pena tê-lo como jogador do Verdão, como agora, que ele decida por ficar.

A hora da despedida sempre chega, mais cedo ou mais tarde. Que o Palmeiras, os palmeirenses e o próprio Dudu aproveitem bem esta permanência e curtam muito tudo o que ela vem nos dando: um jogador que se entrega totalmente em campo, capaz de jogadas espetaculares, que incendeia a torcida no Allianz Parque, que amedronta os adversários e que é fundamental para a conquista de títulos.

Avanti!

Digna de todos os elogios a forma com que Alexandre Mattos comunicou a torcida da extensão de contrato de Dudu. No vídeo, o dirigente deixa claro que os ajustes financeiros que propiciaram a conclusão do acordo só aconteceram graças aos recursos do Avanti.

Nosso programa de sócio torcedor sempre deve ser a fonte de receita mais valorizada pelo clube. Todos sabemos como as receitas vindas dos contratos com a TV e com patrocinadores são importantes no modelo econômico do clube, mas a fonte mais pulverizada, e por isso mais segura, é a que vem da torcida.

Essa retomada à valorização do Avanti, deixado um pouco de lado nas últimas temporadas em detrimento à excessiva valorização da relação com a patrocinadora, é um excelente sinal. As coisas podem caminhar em paralelo, de forma equilibrada.

O clube precisa agora voltar a fazer do sócio Avanti um apoiador satisfeito. Os serviços seguem confusos e pouco eficientes. A propaganda feita por Mattos tem um significado muito grande, mas o torcedor, sobretudo aquele que deixou de apoiar mensalmente nos últimos anos, precisa se sentir recompensado em todos os sentidos para reativar a relação.


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