O Palmeiras foi derrotado pelo Flamengo no Allianz Parque na
tarde de domingo e, depois de três meses, Mano Menezes acabou demitido. Junto
com ele, foi dispensado também o Diretor de Futebol, Alexandre Mattos, que já
vinha sendo alvo de uma campanha contra si havia alguns meses.
A derrota, em si, talvez já fosse a gota d’água para ambos.
Mas a maneira como o jogo transcorreu tornou a decisão de demitir Mano muito
fácil. Ainda durante a partida, ele mesmo já sabia que era o fim da linha; sua
expressão corporal à beira do gramado já deixava claro que ele estava ciente
que não haveria sequência em seu trabalho.
Incluindo a partida contra o Atlético-MG em que o time foi
dirigido pelo auxiliar Sidnei Lobo, foram 20 partidas com a comissão técnica de
Mano Menezes, com 11 vitórias, 5 empates e 4 derrotas – três delas na sequência
final do trabalho e decisivas: contra o Grêmio, Fluminense e Flamengo. A
derrota por 3 a 1 para os rubro-negros foi a pior sofrida pelo Palmeiras em
cinco anos de existência do Allianz Parque.
O aproveitamento final da trajetória de Mano no Palmeiras foi
de 63%, marca que o coloca apenas dentro da média histórica geral do clube – o que,
diante dos novos padrões estabelecidos e da ambição imposta por todos nós, é
pouco. Mas não foram apenas os números: a ausência de padrão tático e a postura
leniente da maioria dos atletas em campo sob seu comando tornaram a permanência
do treinador, num momento de decisão para o projeto técnico-tático da próxima
temporada, insustentável.
Mattos foi no
embrulho
Cesar Greco / Ag.Palmeiras
Não sabemos até que ponto a decisão de demitir Alexandre
Mattos passou por discordâncias quanto a segurar ou não Mano Menezes. Era
sabido que Mattos estava fechado com Mano e pode ter havido um impasse do tipo “se
ele for, eu vou junto” – se houve, Mattos acabou fazendo um favor à direção,
dando-lhe o argumento decisivo por sua demissão.
A pressão para demitir o Diretor de Futebol foi mais um
produto desenvolvido pela fábrica de problemas que paira sobre o Palmeiras
desde 1914. Em vez de pressionarem o presidente para ser menos permissivo com
os maus negócios trazidos à mesa por Mattos, como acontecia até 2016,
preferiram pedir a cabeça do subalterno e assim demonstram poder. No final,
demore o quanto for, essas pressões sempre surtem efeito – pelo menos quando o
comando não tem firmeza suficiente.
E agora?
Nós, torcedores, estamos perdidos. “Sabemos” o que não
queremos, e normalmente não pensamos muito na hora de clamar por mudanças,
mesmo sem ter a menor ideia da nova direção para que devemos remar depois.
Na entrevista coletiva concedida na noite de domingo, o
presidente, ao menos aparentemente, mostrou estar na mesma situação. Sua noite
de sono não deve ter sido das melhores.
Os rumos do Palmeiras para 2020 passam pela definição, pela
ordem, da identidade de jogo que se quer implementar, e de quais profissionais comandarão
essa nova implementação – a única coisa já sacramentada é que “a base será
utilizada”.
Essas definições precisam ser rápidas, para organizar o
roteiro de contratações e dispensas. Diante dos longos contratos a que quase
todos os atletas do elenco estão vinculados, as dispensas demandarão tanto ou
mais trabalho que as contratações, já que os jogadores precisam ser realocados
por empréstimo.
O tempo está passando. Tic-tac.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
O uso da base – ou a falta dele – vem sendo usado como argumento para bombardear a gestão de Alexandre Mattos à frente do futebol palmeirense. De fato, o atual diretor de futebol tem cometido alguns erros à frente do departamento e não está nem um pouco livre de receber críticas. E a forma de aproveitamento da base talvez seja mesmo um deles.
A despeito da atuação de Mattos nos últimos anos, o
Palmeiras é criticado há décadas por ser um time que não aproveita a base no
time de cima.
Será que a fama é justa? E por que será que a maioria dos meninos que conseguem alguma chance não vingam no time de cima?
O objetivo deste post é desmistificar a fama de nosso clube de não usar a base e apresentar elementos para promover uma discussão um pouco mais ampla sobre o aproveitamento de jovens no Palmeiras.
Vamos aos dados
Vinicius; Taylor (Mailton), Thiago Martins (Vitão), Nathan
(Pedrão) e Victor Luis (Esteves); Gabriel Furtado, Matheus Sales (Jobson),
Juninho Silva e Vitinho; Gabriel Jesus e Fernando (Yan, Papagaio, Artur, Iacovelli
ou Léo Passos).
Este time totalmente oriundo de nossa base já entrou em campo de 2015 para cá, já sob a gestão Mattos. Todos já tiveram alguma chance – é claro, não ao mesmo tempo.
Convenhamos: tirando o extra-classe Gabriel Jesus, ficaríamos bem pouco empolgados caso qualquer um deles fosse contratado no mercado. Tirando alguns poucos que poderiam (ou ainda podem) evoluir bastante na carreira, a lista contém vários flops. Parece um time dos tempos em que viramos coadjuvantes.
Por falar nesse tempo, temos mais uma penca de jogadores da
base usados de 2010 para cá, antes da chegada de Mattos, que desmentem a fama
de não aproveitarmos os pratas-da-casa. Com exceção de Marcos, a sensação ao verificar
a lista não é positiva. Talvez o único dessa lista que tem ou teve uma carreira
interessante foi o lateral Gabriel Silva.
É possível usar os links* para tentar reconhecer pela foto alguns deles, que tiveram pouquíssimas participações e poucos torcedores lembram sequer de suas existências, apontando apenas pelos nomes.
Em compensação, outros como Deola, Vinishow e Patrik vestiram nossa camisa por mais de 100 vezes. E nenhum deixou saudades.
Ao todo, foram citados 55 jogadores de nossa base, que tiveram alguma chance de 2010 para cá, no time principal. Definitivamente, não dá para dizer que “o Palmeiras não usa a base”.
O que é histórico é que nossa base, até 2012, sempre foi uma excrescência. Mal gerida, usada como balcão de negócios, fatiando os direitos econômicos dos atletas sempre que possível para agradar a uma ou outra figura de bom relacionamento com nossas diretorias, com um trabalho de formação pobre e atrasado, nossas categorias menores só produziram talentos como Marcos por fenômenos estatísticos.
Usa a base, mas usa mal
O problema do Palmeiras não é não usar a base, mas sim como
a usa. Até 2012 era mero remendo: o clube recorria à molecada para emergencialmente
preencher lacunas no elenco, e muitas vezes, como vimos, usava meninos com
sérias deficiências na formação e/ou na transição.
Isso mudou a partir de 2013, quando a gestão foi remodelada em todos os aspectos. Hoje o Palmeiras é um devorador de títulos nas categorias de base. O clube já produz jogadores que podem eventualmente compor o elenco principal, ao menos como terceira opção. Um dos problema no uso atual da base é que a transição para o profissional ainda parece precisar de um aprimoramento.
A tática usada com alguns, como Arthur, Pedrão, Gabriel
Furtado, Matheus Rocha, Vitinho, Léo Passos e Papagaio, é emprestá-los a times
com menos pressão para que possam pegar rodagem jogando. Funcionou bem com
Victor Luis.
A questão é que quando o contrato se aproxima do fim, tendo como concorrência em nosso elenco atletas contratados a altos valores no mercado, os agentes preferem recolocá-los onde tenham mais oportunidades de jogar, imediatamente.
Outros, por pressa ou por oportunidades, acabam nos deixando
muito cedo, como recentemente Vitão e Fernando. Outros partem sem ao menos
estrear, como Luan Cândido. Todos foram negócios muito bons em termos
financeiros para o clube.
Mas será que a avaliação entre vender ou segurar; liberar ao final de contrato ou promover, está sendo feita da melhor forma? Quais são os critérios objetivos usados para esse processo de tomada de decisão?
O uso da base é precioso demais para ser usado apenas como
argumento (falacioso, como pudemos ver) para atacar o diretor de futebol do
Palmeiras, uma das cadeiras mais cobiçadas do país por qualquer profissional da
área comercial. A discussão precisa melhorar. Com os dados acima, esperamos
contribuir para isso.
* Os dados
estatísticos estão contando a partir de janeiro de 2010. Isto se deve ao fato
de que esses dados estão sendo adicionados manualmente em nosso banco e o
processo é minucioso e longo. Neste momento os dados de 2009 estão sendo
inseridos. A previsão para que todos os dados, desde 1915, de todos os
jogadores, estejam disponíveis é final de 2021.
O setor ofensivo do Palmeiras parece ter resolvido o
problema da pontaria. Depois de ter ficado atrás de Santos e Ituano no
estadual, o ataque palmeirense engatou uma boa sequência e neste momento é o
mais positivo tanto na Libertadores quanto no Brasileirão.
A entrada de Ricardo Goulart, em princípio, fez bem ao ataque
e o camisa 11 segue sendo um dos jogadores com mais participações em gols, seja
convertendo-os, seja dando assistências. O setor sofreu uma pequena, mas fatal,
oscilação nas semifinais do estadual; Goulart então saiu do time e Zé Rafael encaixou
muito bem – antes do jogo contra o CSA, com o time reserva, o Palmeiras havia
marcado 11 gols em três jogos.
Mas se a linha ofensiva com Dudu, Gustavo Scarpa e Zé Rafael
está dando conta do recado, o desempenho do comando do ataque em 2019, até
agora, tem inegavelmente deixado a desejar.
Borja e Deyverson estão com desempenho sofrível; Arthur Cabral teve poucas chances até agora e o Palmeiras deixa de fazer alguns gols – e de somar alguns pontos, como aconteceu em Maceió – pela falta de eficácia do jogador mais avançado do time. Essa deficiência pode custar campeonatos.
Borja e Deyverson
Miguel Borja, a contratação mais cara da História do
Palmeiras, até fez um ou outro bom jogo em 2019, mas sucumbiu à má fase. Os
gols estão cada vez mais raros. Erros em lances fáceis fizeram a pressão da
torcida aumentar. Sua personalidade retraída, a despeito de seu enorme coração,
tornou sua situação ainda pior.
O colombiano nunca teve o nome tão especulado para deixar o clube; vendê-lo abaixo do preço investido já não é um pensamento tão absurdo diante do aparentemente irreversível prejuízo técnico. Em doze jogos, o colombiano marcou apenas três gols e deu uma assistência, em 866 minutos em campo.
Com o chip eternamente solto, Deyverson foi suspenso após um lance deplorável no Derby do estadual, mas recebeu nova chance após o gancho diante da fase ruim de Borja. Taticamente, o camisa 16 se mostra mais útil que o colombiano, mas sua limitação técnica faz com que os ataques muitas vezes terminem quando a bola chega a seus pés.
Apesar de não ser mais tão perseguido pela torcida quanto Borja, os números de Deyverson na temporada são até piores que os do colombiano: foram 13 jogos, 1060 minutos em campo, com os mesmos três gols e uma assistência. Os detalhes dos números podem ser conferidos na página de estatísticas do Verdazzo.
Arthur Cabral e a
regra de Mattos
Cesar Greco/Ag Palmeiras
A aposta de longo prazo da diretoria para o comando de ataque
é Arthur Cabral. Contratado em agosto junto ao Ceará, então com 19 anos, o
atacante teve até agora apenas duas chances de mostrar jogo – e em uma delas
foi muito bem, marcando o gol de empate numa partida complicada em Novo
Horizonte, no mata-mata do estadual. Questões físicas, no entanto, seguem
atrapalhando o jogador.
Mesmo que seja logo liberado por completo, seu desempenho
segue sendo uma incógnita. Afinal, poucos meninos de 20 anos conseguiram
carregar o fardo de assumir a camisa 9 do Palmeiras sem sucumbir à pressão. Arthur
Cabral tem condições para isso: é forte, tem todos os fundamentos e um time
muito bom à sua volta.
Mas mesmo que consiga, ainda ficamos sujeitos a uma
temporada desgastante e seguiríamos reféns de uma eventual lesão do camisa 39,
retornando ao looping infinito de Deyverson/Borja. O Palmeiras precisa urgentemente
rever a posição de centroavante na janela do meio do ano.
E para achar um atleta que forme com Arthur Cabral uma dupla
de centroavantes para atender ao rodízio de Felipão, Mattos precisa quebrar uma
regra imposta por ele mesmo: a de investir somente em jogadores com grande
potencial de revenda, visando lucro financeiro em paralelo ao ganho técnico.
Os velhos cascudos
Os maiores centroavantes do Brasileirão, hoje, são veteraníssimos – e todos seguem marcando muitos gols. Ricardo Oliveira (38), Fred (35) e Guerrero (35) conhecem muito bem o futebol brasileiro e seguem dando ótimo retorno a seus clubes, deixando as torcidas bastante satisfeitas. Além deles, apenas o jovem Pedro (21), do Fluminense, vem tendo uma performance de destaque.
Talvez seja o momento do Palmeiras repensar a estratégia de
contratação de atletas, ao menos em determinadas posições. Nem todo reforço
precisa dar resultado financeiro positivo; o que importa, é o balanço final. Se
o clube decidir investir num jogador com idade avançada e com pouco ou nenhum
valor de revenda, mas ele responder marcando os gols que podem fazer a
diferença num jogo decisivo – sobretudo nos mata-matas que começam pra valer em
agosto – terá valido a pena.
Neste momento, poucos centroavantes têm esse perfil – goleadores,
vencedores, experientes e habituados ao futebol brasileiro. Abaixo, algumas
possibilidades:
Jonas
(34), depois de uma espetacular temporada no Benfica em 17/18, teve duas lesões
na temporada atual e vem figurando na reserva – mesmo assim, tem 13 gols em 31
jogos, muitos deles vindo do banco. Resta saber se ainda tem disposição de sair
da Europa para jogar no Brasil.
Lucas Pratto
(30) vem fazendo uma temporada discreta no River Plate: 5 gols em 19 jogos. Por
já ter atuado nesta Libertadores, é uma opção com pouco apelo neste momento.
Jonathan Calleri
(25) nem é tão experiente, tampouco faz uma temporada exuberante (8 gols em 33
jogos), mas tem o atenuante de estar num time fraco, o Alavés –
coincidentemente, o último time de Deyverson.
Gustavo
Bou (29) vive na ponte Racing/Tijuana. Desde que voltou ao clube mexicano,
no início do ano, fez 8 gols em 16 jogos, mesmo não sendo exatamente um
NOVE-NOVE. E não sabemos sequer se teria boa adaptação ao Brasil.
Dario
Benedetto (28), pela mesma razão de Lucas Pratto, não tem força para esta
janela. Seus números pelo Boca Juniors também não empolgam: 5 gols em 17
partidas. É outro que não sabemos como se adaptaria ao país.
Notem que nenhum dos atacantes aventados teria todos os
predicados para preencher a lacuna em nosso elenco na próxima janela. Mas provavelmente
há no mercado algum atleta que pode atender a nossas demandas – e é exatamente por
esse motivo que Alexandre Mattos é muito bem remunerado: para prospectar o
mercado e encontrar reforços que atendam ao que precisa o Palmeiras
E para isso, por vezes, pode ser melhor recorrer a um atleta
com baixo ou nenhum valor de revenda, mas que resolva uma necessidade premente,
a se manter preso a uma filosofia que envolve ganhos financeiros e que limita
os resultados.
Um centroavante realmente cascudo e matador talvez seja a diferença entre um time com meias talentosíssimos, protagonista de todos os campeonatos, e um time copeiro e campeão de tudo.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
Os torcedores palmeirenses somos seres altamente bipolares,
desde os tempos da Taça Savoia. Nossas reações ao que acontece em tudo
relacionado ao Verdão, via de regra, são extremadas, seja para o bem, seja para
o mal.
Além dessa característica marcante, nossa torcida
desenvolveu nas últimas décadas outro comportamento interessante: é
extremamente desconfiada. Desde que os primeiros jornalistas “de bastidores”
surgiram, com as quentinhas das políticas dos clubes, os fatos passaram a
ganhar razões ocultas. Os torcedores encarnam Sherlock Holmes e deduzem, cheios
de razão, o porquê de determinado fato ter acontecido – normalmente, começam
suas frases elucidativas com “a verdade é que…”
Ultimamente, diante do mau desempenho de Carlos Eduardo nestes
primeiros sete jogos da temporada, muito se tem questionado a lisura de Alexandre
Mattos nos negócios. A desconfiança aumentou com a notícia de que o diretor de
futebol estaria na Europa em vias de vender Vitão e Luan Cândido, a fim de
equilibrar o fluxo de caixa dos próximos meses.
A explicação dada à imprensa é de que existe a possibilidade
do Palmeiras ser condenado nos próximos meses a pagar cerca de R$ 40 milhões ao
empresário Antenor Angeloni pela compra de Wesley, na gestão Tirone. Há vários
aspectos nessa história que precisam ser desenrolados.
Mais uma vez, a
discussão sobre o uso da base
Fabio Menotti/Ag.Palmeiras
A decisão de usar um jogador da base ou vendê-lo já foi objeto de um post, por ocasião de uma suposta oferta para vender Papagaio, em dezembro. O que temos à vista são as atuações de Vitão e Luan Cândido nos times de base, seja do Palmeiras, seja da seleção da CBF.
Vitão parece exercer liderança sobre os companheiros, característica importante para um zagueiro. O garoto é capitão do Palmeiras e da seleção desde o sub-17 e nunca deixou de ser convocado desde sua primeira aparição com a amarela. Mas apesar de ter seus predicados, Vitão não mostrou, em campo, nada que saltasse aos olhos. Parece ser um bom zagueiro – mas iguais a ele, é possível ver vários por aí, pelo menos por enquanto.
Pedrão, que foi emprestado ao América, parece bem mais
pronto e segue o fluxo programado pela comissão técnica: um ano só treinando
com os profissionais, depois percorre um ciclo de empréstimos para pegar
cancha, para aí ser avaliado se pode integrar nosso elenco. Victor Luis cumpriu
esse roteiro. Vitinho e Papagaio estão passando por ele. Outros como Anderson e
Matheus Rocha foram emprestados direto, sem vivenciar o dia-a-dia da Academia
de Futebol.
Luan Cândido parece um caso de exceção. Seu talento e
maturidade dentro de campo chama muito a atenção. A chance de estarmos diante
de um jogador extra-classe para o futebol mundial parece real e negociá-lo
agora é uma tacada de alto risco, neste caso, não só para quem compra, mas
também para quem vende. Estas avaliações, claro, são superficiais, de quem vê
apenas as partidas e não acompanha os treinamentos e o comportamento
intra-muros dos meninos.
Fluxo de caixa
prejudicado
A notícia de que Mattos foi à Europa para vender os garotos
por conta de um possível solavanco no fluxo de caixa, ainda por conta do caso
Wesley, deixa várias pontas soltas.
O Palmeiras tem se caracterizado nos últimos anos pela
extrema organização nas finanças. Ocorre que ações jurídicas antigas, que datam
da gestão Tirone para trás, seguem correndo e a estratégia do Departamento
Jurídico tem sido buscar acordos para ações tidas como “perdidas”, a fim de
diminuir o valor total a ser pago. E isso muitas vezes envolve pagar à vista,
ou em poucas parcelas, para reduzir o valor total.
No caso de Antenor Angeloni, um acordo satisfatório havia
sido costurado na primeira gestão de Paulo Nobre, mas o COF, por obra de
Mustafá Contursi, vetou. Isso irritou demais o empresário catarinense, que hoje
se recusa a voltar a conversar como Palmeiras e a ação, que com os juros já beira
os R$ 40 milhões, está em vias de ser executada. O timing dessa e de outras
execuções é difícil de ser previsto e por vezes isso acaba exigindo alguns
sacrifícios no caixa. Tudo isso explicaria esta viagem de Mattos à Europa que
está irritando tanto a torcida.
O problema parece ainda maior porque Carlos Eduardo, a
segunda contratação mais cara da História do clube, um jogador que nunca chamou
a atenção de forma positiva em nenhum clube por que passou, faz um começo de
temporada melancólico.
A balança não pode
ser seletiva
O folclore do futebol é recheado de histórias sobre
negociações espúrias nas quais os cartolas dos clubes levam o famoso “por fora”.
Tão recheado que parece difícil não supor que isso realmente acontece por aí –
talvez não com a frequência com que a imaginação popular sugere, mas acontece.
Quando uma operação como a de Carlos Eduardo aponta para um saldo
negativo, como acontece neste momento, a desconfiança aumenta. Detetives de
rede social cravam que aí tem coisa.
O que poucos parecem ponderar é que a função de diretor de futebol é passível
de grandes erros, assim como pode render grandes tacadas. Ninguém sabe ao certo
como um jogador recém-contratado vai render. Ao avaliar um diretor de futebol, a
balança não pode ser seletiva, não se pode deixar nenhuma negociação de fora.
Para ser justo, é preciso tratar do saldo total.
Não é só a segunda maior contratação da História do Palmeiras
que está mal. A primeira também: Borja custou mais de R$ 30 milhões e está
enlouquecendo as trombetas do apocalipse da rua Palestra. Só com o 37 e com o 9,
são mais de R$ 50 milhões. Mas e quanto Mattos, com seu faro para negócios, já
conseguiu de lucro para o clube? E em meio a isso tudo, quão forte foram os
elencos que ele montou?
Quanto foi o saldo técnico e financeiro das contratações de Zé
Roberto, Tchê Tchê, Moisés, Vitor Hugo, Keno, entre outros casos notórios? Como
colocar de lado sua atuação junto a Manchester City e Barcelona para prolongar
as estadas de Gabriel Jesus e Mina no clube, mesmo muito bem vendidos? Como
esquecer o chapelaço nos inimigos para contratar Dudu, nosso maior ídolo da
atualidade?
Nestes pouco mais de quatro anos, entre compras e vendas, Mattos
deve ter fechado cerca de duas centenas de negócios; mesmo com contratações
como Ryder Mattos, Rodrigo, Kelvin, Victor Ramos e Emerson Santos, o saldo financeiro
certamente é positivo e tecnicamente o clube vem ganhando títulos.
O salário de nosso diretor é muito bom para que ele não caia
em tentação – se caiu ou não, em meio a todas essas negociações, é algo que vai
permanecer para sempre no folclore, da mesma forma que antigos diretores de
futebol do clube sempre lidaram com essa desconfiança – a não ser que algo
concreto venha à tona. O feeling do
presidente, que é quem sempre dá a palavra final em cada negociação, é a única
coisa que pode frear um negócio aparentemente “estranho”. E se o técnico bate
na mesa que quer o Carlos Eduardo, é mais difícil pisar nesse freio.
Para o torcedor que reclama mas paga pelo ingresso, paga Avanti e tudo o mais, no final das contas só interessa o momento, se o time está jogando “bem” ou não. Resultado em clássico conta muito. Pouco importa se é pré-temporada, se é paulista, se foram só sete de 80 jogos e existe um planejamento de evolução técnica. Se tem reforço caro jogando mal, ainda mais depois de perder um Derby, vai ter gente levantando lebres na Internet, cometendo, supostamente, injustiças. Ou não. Isto tudo, no fundo, é um saco, mas é elementar. Não é, Watson?
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.
O Palmeiras anunciou no sábado a extensão do contrato de
Dudu por mais um ano – seu contrato, que ia até o final de 2022, agora vai até
dezembro de 2023 – mais cinco anos, o máximo que a legislação permite.
A permanência de Dudu certamente foi a melhor notícia para a
torcida do Palmeiras nesta janela de transferências. O melhor jogador do
futebol brasileiro ao final de cada temporada, diante do cenário financeiro
internacional, normalmente é dado como perda certa a ser reposta pelos clubes.
Nessa condição, não é incorreto dizer que o Palmeiras fez a melhor ‘contratação’
entre todos os clubes do país.
Como não podia deixar de ser, a notícia deixou a torcida
extremamente empolgada. Além de manter no Verdão um jogador extra-classe e com
isso sustentar o status de melhor elenco do país, a condição de ídolo parece
ficar cada vez mais evidente – algo perfeito num cenário onde a necessidade por
adoração a personalidades é uma regra.
O anúncio, no entanto, talvez precise ser melhor
compreendido.
Ele fica – até a próxima janela
Foi comunicado que atleta e clube encerraram todas as conversas
para uma possível transferências e que Dudu jogará no Palmeiras – pelo menos
até a próxima janela – ou seja, ele poderá sair do Palmeiras no meio do
ano.
As circunstâncias que envolveram sua permanência estão ligadas à mudança nas regras de contratação por que passou o futebol chinês, que agora tem mais restrições para contar com atletas estrangeiros – tal mudança facilitou, inclusive, que o Palmeiras conseguisse o empréstimo de Ricardo Goulart. Mas isso não impede que, para o replanejamento das próximas temporadas, Dudu não volte a ser alvo dos clubes orientais.
As negociações entre o Palmeiras e os agentes de Dudu caminharam para a permanência diante de uma série de fatores, que certamente envolveram ajustes financeiros – tanto em sua multa rescisória, quanto em seus salários. Mas não garantem nada em relação ao que vai acontecer depois de julho. Se desta vez houve acordo, significa que está ótimo para todos – até a próxima rodada de negociação.
Isto precisa ficar bem claro para a torcida, que parece ter
esquecido que o contrato anterior já era longo e que mesmo assim Dudu poderia
sair a qualquer momento. O que deve ser
comemorado é que as probabilidades de saída, a cada renovação, ficam cada vez
menores – à medida que a idade do craque vai avançando, ele se torna menos
atrativo para outros mercados. O Palmeiras tem, hoje, o privilégio de manter no
elenco um atleta espetacular no auge de sua forma física e técnica.
Ídolo ou não: isso importa?
Divulgação
É muito comum inserir a idolatria como tema nas discussões sobre futebol. Especular se um jogador é ou não ídolo de uma torcida é um dos esportes preferidos nas mesas redondas sobre o nada que infestam as televisões – e parte das torcidas curiosamente parecem adorar o assunto, afinal, os entendidos estão lá decidindo por eles quem são seus ídolos.
A idolatria é uma relação que deveria ser mais particular. Cada
um decide, muitas vezes involuntariamente, o que sente em relação a cada atleta
que tem o privilégio de vestir a camisa sagrada de nosso time. Lances rápidos,
ou mesmo pequenos gestos fora de campo muitas vezes tocam pontos de nosso
subconsciente e fazem com que uma relação de profundo respeito e afeto passe a
ser cultivada – e essa relação aumenta ou diminui de intensidade a cada
partida, a cada semana, com novos gestos.
Cesar Greco/Ag.Palmeiras
A permanência de Dudu foi encarada por muitos como um gesto
de amor ao clube. De fato, já são quatro anos completos, três títulos nacionais
e uma relação muito bem construída com a torcida. No sábado, foi possível ler nas
redes sociais que, com a decisão, Dudu entrava
de vez para o rol de grandes ídolos do Palmeiras – como se esse rol
existisse formalmente.
Como todo mundo, Dudu é, antes de tudo, uma pessoa que tem
suas ambições pessoais, tem família e usa sua ocupação profissional para
satisfazer suas necessidades. Neste momento, o pacote Palmeiras lhe dá as melhores
condições, e foi isso que o fez tomar essa decisão. No que ficamos muito
satisfeitos! Ontem, mesmo num jogo morno, Dudu foi um dos melhores jogadores do
time.
Que o camisa 7, a cada ponto de tomada de decisão, sempre faça
suas ponderações com a direção do clube, e que enquanto estiver valendo a pena
tê-lo como jogador do Verdão, como agora, que ele decida por ficar.
A hora da despedida sempre chega, mais cedo ou mais tarde.
Que o Palmeiras, os palmeirenses e o próprio Dudu aproveitem bem esta
permanência e curtam muito tudo o que ela vem nos dando: um jogador que se entrega
totalmente em campo, capaz de jogadas espetaculares, que incendeia a torcida no
Allianz Parque, que amedronta os adversários e que é fundamental para a
conquista de títulos.
Avanti!
Digna de todos os elogios a forma com que Alexandre Mattos comunicou
a torcida da extensão de contrato de Dudu. No vídeo, o dirigente deixa claro
que os ajustes financeiros que propiciaram a conclusão do acordo só aconteceram
graças aos recursos do Avanti.
Nosso programa de sócio torcedor sempre deve ser a fonte de
receita mais valorizada pelo clube. Todos sabemos como as receitas vindas dos
contratos com a TV e com patrocinadores são importantes no modelo econômico do
clube, mas a fonte mais pulverizada, e por isso mais segura, é a que vem da
torcida.
Essa retomada à valorização do Avanti, deixado um pouco de
lado nas últimas temporadas em detrimento à excessiva valorização da relação
com a patrocinadora, é um excelente sinal. As coisas podem caminhar em paralelo,
de forma equilibrada.
O clube precisa agora voltar a fazer do sócio Avanti um apoiador satisfeito. Os serviços seguem confusos e pouco eficientes. A propaganda feita por Mattos tem um significado muito grande, mas o torcedor, sobretudo aquele que deixou de apoiar mensalmente nos últimos anos, precisa se sentir recompensado em todos os sentidos para reativar a relação.
O Verdazzo é um projeto de independência da mídia tradicional patrocinado pela torcida do Palmeiras.